“E assim resolveu velar armas toda a noite, sem se sentar nem deitar, mas ora de pé ora de joelhos, diante do altar de Nossa Senhora de Monserrate, onde determinara deixar as suas vestes e vestir-se as armas de Cristo”.

(Autobiografia de Santo Inácio, n. 17).

Escrito por Pe. Paul A. Schweitzer, SJ

Durante a sua peregrinação desde Loyola até o renomado mosteiro beneditino de Montserrat, Inácio pensava, seguindo o seu costume, nas façanhas de armas que queria fazer. Foi inspirado pela leitura de romances de Amadis de Gaula e outros livros semelhantes. Mas agora não foram façanhas no campo de batalha, eram as grandes obras que queria realizar por amor de Deus. Se inspirava pela vida e obras de São Francisco de Assis e São Domingos, como tinha meditado ao longo da sua recuperação em Loyola. E eu, quais são as minhas ambições profundas para ser mais? O que quero contribuir para o Reino de Deus?

Chegando a Montserrat, Inácio fez uma confissão escrita durante três dias com o beneditino francês João de Chamones, um monge ‘de notável espiritualidade e virtude’ que confessava os hóspedes do mosteiro. Chamones deve ter instruído Inácio em métodos de oração e no exame de consciência. Possivelmente, Inácio aprendeu dele a contemplar os mistérios da vida de Jesus. Quais são as formas diferentes de oração na minha experiência? Quais me ajudam mais?

Para preparar-se para a cerimônia solene de se tornar cavaleiro, um candidato passaria a noite em ‘vigília de armas’. Inácio resolveu marcar sua nova vida por uma vigília na noite antes da festa da Anunciação, 25 de março de 1522. Doou sua roupa fina a um mendigo e vestiu uma roupa feita de pano de saco. Passou a noite, ora em pé e ora de joelho, diante do altar de Nossa Senhora de Montserrat, em oração. Ao lado do altar pendurou seu punhal e sua espada. O gentil-homem se tornou servo pobre de Jesus.

Podemos refletir sobre tudo que passou pela alma de Inácio nesta vigília. Foi uma mudança total de vida. Já tinha prometido a Nossa Senhora a castidade, que viveu fielmente, em contraste aos pecados passados. Tantas consolações Inácio deve ter sentido, consolações que o ajudariam ao longo do resto da sua vida! Deixou o passado para começar a viver um futuro novo. Eu também posso parar e refletir sobre a minha vida. Como Deus tem atuado nos últimos tempos? O que eu deveria deixar, o que abraçar, para caminhar de maneira mais integrada no meu seguimento de Cristo?

Terminada a vigília, Inácio saiu de Montserrat de manhã bem cedo, para não ser reconhecido e honrado. Para desfazer a vaidade que tinha antes, vestiu o saco e deixou seu cabelo desarrumado, porque antes tinha excesso de respeito pela sua aparência. Será que eu fico preocupado demais com as reações de outros? Tenho medo de viver na pobreza e simplicidade, de ser a pessoa que realmente quero ser?

O único tesouro que Inácio levava consigo foi um caderno no qual anotava as suas inspirações e descobertas espirituais. Foi o germe dos Exercícios Espirituais. Em toda a vida cristã, como na vida de oração em particular, ajuda muito registrar os frutos da oração para perceber como Deus vai agindo ao longo do tempo. Assim posso oferecer a Deus a minha vida, percebo e agradeço as graças que vou recebendo. É oportuno refletir sobre a ação de Deus na minha vida, para reconhecer e agradecer os seus dons.

Texto bíblico: Lc 12, 22-34

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