“Deus tratava-o como um mestre-escola trata uma criança, ensinando-o. E quer isto fosse pela sua rudeza e fraca inteligência, ou porque não tinha quem lhe ensinasse, ou pela firme vontade que Deus lhe tinha dado de O servir, via claramente e sempre pensou que Deus o tratava desta maneira. Pelo contrário, se duvidasse disto, pensaria ofender sua Divina Majestade”. (Autobiografia, n. 27).

Escrito por Pe. André Luís de Araújo, SJ

A partir da contemplação da vida humana de Jesus, somos convidados a abrirmo-nos a uma gradual transformação das nossas atitudes mais profundas. Karl Rahner observou bem: “Só uma constante relação com o Jesus “histórico”, só uma repetida meditação sobre os mistérios da vida, e só uma crescente atenção à sua palavra podem produzir o tipo de imitação de Cristo que sabe o que está fazendo e assim passa à fruição. Não nos devemos esquecer de que nosso conhecimento reflexivo não é só reflexivo, mas tem uma influência formativa do que acontece nas profundezas da alma. Se assim é, devemos seguir conscientemente a Cristo; em seguida devemos, em conhecimento de causa, modelar as nossas vidas pela vida do Jesus ‘histórico’” (RAHNER, 1965, p. 117).

Volvamos nosso olhar para o Senhor que faz história conosco. Nossa relação com Ele é pessoal e vai além de qualquer subserviência apostólica. Por isso, se sou levado a segui-Lo, talvez, seria melhor responder a algumas perguntas, antes de empreender essa jornada: quem é o Senhor que nos chama e faz estrada ao nosso lado? O que Ele nos ensina? O que precisamos aprender d’Ele? Qual é a sua causa? Por que Ele age desse modo tão peculiar? O que o Senhor espera de nós? O que nós podemos esperar d’Ele?

Estejamos atentos para evitar que nossas orelhas enrijecidas, nossos olhares cansados, nossos braços e pernas vacilantes, nos impeçam de (re)educar nossa sensibilidade. Peçamos, por isso, a graça de não ser surdos, mas prontos e diligentes para atendermos ao chamado do Senhor (EE 91). Peçamos ao Senhor que nos ajude a ver e a ouvir para além do que o que se mostra, a fim de sentirmos os seus apelos e andarmos firmes com Ele.

Gastemos tempo na contemplação do que virá. Olhemos as pessoas que aí estão, tentemos descobrir nelas a pessoa do Senhor. Escutemos o que dizem e, entre todas as vozes, procuremos perceber e distinguir o que está sendo dito. Observemos o que as pessoas fazem e participemos, colaboremos, aprendamos, escutemos, reconheçamos o Senhor e nos reconheçamos também.

Parar e prestar atenção ao que está à nossa volta ajuda a notar que vamos negligenciando muita coisa: pessoas, sons, cheiros, objetos, gostos, cores, lugares, paisagens, cenas… vão passando despercebidos, apesar de evidentes e imediatos. Por que isso acontece?

A nossa abertura ao infinito e o nosso desejo mais profundo revelam quem somos. Por isso, propor esse diálogo de desejos (nossos, dos outros, do ambiente que nos cerca e os de nosso Senhor) dispõe-nos a ver surgir uma realidade nova, um dinamismo novo, a força do Magis – um modo de ser e de proceder, de experimentar o amor que nos redime, na pessoa de Jesus. Ou, dito de outra maneira: perceber a centralidade do Reino!

O Senhor está no meio de nós! Por livre decisão da Sua vontade, caminha conosco, ensina-nos discretamente, e nos quer caminhando livres de todo e qualquer condicionamento. Não se ausenta, não se omite, não gera tumultos e vai encarnando-se na realidade, vai formando-nos pouco a pouco. Não invade; pelo contrário, acolhe quem chega, ainda que do modo mais inusitado, e fica conosco: simples presença!

Como perceber, então, os efeitos dessa presença em nossas vidas, sem perder nossa própria identidade? O que a ação do Senhor gera em nós? Que frutos produz? A partir de onde Ele me salva? O que sou chamado a fazer depois? Sinto que sou capaz de fazer o que Ele me propõe?

Isso exige personalidade e protagonismo! É o desafio de encontrar um jeito próprio de ser e de responder com a própria vida, à medida que reconhecemos o Senhor e O seguimos. Aprender com Ele, no comum dos dias, o melhor modo de ser humano. Olhando para Ele, sabemos quem somos…

Palavra de Deus: Lc 5, 17-26

Revisão: Como aprender do Senhor seu modo de agir no mundo? O que esse ensino-aprendizagem do Mestre pede de nós concretamente? Como perceber a fecundidade desse Amor encarnado, formando-nos no comum dos dias?

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