Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? (Sl 8, 5)

Escrito Por Pe. Jean Fábio Santana, SJ

Todo aquele que conhece um pouco da história de Santo Inácio de Loyola sabe da postura de amor, de confiança, de obediência e de serviço incondicional a Deus adotada por ele como modo de proceder, desde o evento fundante de sua conversão e de mudança de rota nos seus propósitos de vida: a bala de canhão na Batalha de Pamplona.

São inúmeros os acontecimentos da vida de Inácio nos quais podemos encontrá-lo colocando-se como aquele que confia e dá prova de seu amor e obediência incondicional a Deus. Exemplo disso são os episódios das suas duas experiências de prisão, registradas nos parágrafos 61 a 63 da Autobiografia dele. Desta, compilamos aqui uma citação que diz o seguinte: “Inácio, em carta ao rei de Portugal, D. João III, de 15 de Março de 1545, escreverá: ‘Em todos estes cinco processos e duas prisões, por graça de Deus, nunca quis tomar outro solicitador nem advogado, senão Deus, no qual tenho posto toda a minha esperança presente e futura, mediante sua divina graça e favor’”.

Com sua sensibilidade à ação de Deus, Santo Inácio nos ensina a estarmos atentos e a darmo-nos conta do quanto Deus dá a conhecer o seu ser de amor, numa dinâmica de autocomunicação de Si que se manifesta como evento sempre surpreendente, através de sinais e fatos concretos que envolvem nossas vidas. É certo que Deus entra na história da humanidade… entra na nossa própria história, realizando milagres por meio dos quais doa, comunica e revela a Si mesmo. Assim se deu com a autocomunicação de Deus na vida de Moisés, que, através do evento da sarça ardente, é convocado para uma missão; assim se deu com a autocomunicação de Deus na vida da jovem Maria de Nazaré, que, ao receber a visita de um anjo, é convidada a assumir um lugar especial na História da Salvação; assim se deu, também, com a autocomunicação de Deus na vida de Santo Inácio de Loyola, que, ferido por uma bala de canhão, é levado a ver novas todas as coisas e a participar da missão de Cristo.

Como Inácio, somos convidados a exercitar a confiança incondicional em Deus, amadurecendo nossa consciência da autocomunicação do Divino sempre atual em nossas vidas. Um modo eficaz de colocar em prática tudo isso é a cultura do encontro com Deus através das Escrituras. Por meio delas, conhecemos os projetos e a vontade de Deus que devemos acolher e deixar reverberar em nossas vidas, para que assim seja realizada, por meio de nós, a missão de sermos expressão da Palavra e do Projeto de Deus no mundo. Pois, “Como a chuva e a neve descem dos céus e não retornam para eles sem regarem a terra e fazerem-na brotar e florescer, a fim de que ela produza sementes para o semeador e pão para os que dele se alimentam, assim também acontece com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas realizará toda a obra que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei” (Is 55, 10-11). Palavra esta que, como podemos ver, não se encontra presa na Bíblia, mas que salta para dentro da história da humanidade, por meio da qual o próprio Deus fala e atua através dos fatos, dos acontecimentos, das pessoas e da realidade concreta.

Termino com mais uma afirmação atribuída a Santo Inácio de Loyola, que cabe muito bem aqui. No exercício da confiança incondicional em Deus, “Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus”.

Texto bíblico: Salmo 8

#Clique aqui e faça o download da versão para impressão desta reflexão.
Veja também a última reflexão.

Compartilhar.
Deixe uma resposta