“Se a glória nos é revelada na existência e na harmonia do universo, é para que nós reconheçamos a presença ativa de Deus no mundo e ao mesmo tempo colaboremos com sua ação” (F. Courel)

 Outro traço da pessoa inaciana, que emana dos Exercícios, é o da “maior glória de Deus”, entendida à maneira de São Irineu: “Gloria Dei vivens Homo” (a glória de Deus é o homem vivente). Que todas as pessoas tenham vida!  Quem tem esse carisma inaciano não busca o modo bom, mas o melhor, o que mais toca, o que mais muda, o que faz com que todas as pessoas tenham vida, e vida abundante.

A espiritualidade inaciana é uma espiritualidade da glória, da alegre certeza de que Deus triunfará.

Mas a nota característica de Inácio é de apresentar esta glória como sempre maior. A fórmula “tudo para a maior glória de Deus” condensa toda a dinâmica interior do itinerário de sua vida, expressa sua atitude fundamental e motivação profunda de sua existência; ela é a meta para a qual Inácio orienta sua vida, o princípio inspirador de suas decisões, a que dá sentido à sua atividade apostólica.

A glória de Deus, buscada em todas as coisas, é a força interior que o impulsiona a realizar tanto as grandes empresas como os atos mais simples de cada dia. É a expressão última do dinamismo apostólico inaciano. A mística inaciana é uma mística de retorno ao mundo e à ação apostólica.

A pessoa inaciana é continuamente remetida à ação apostólica, à existência cristã. O serviço da glória é sua vocação, na Igreja e no mundo. Todas as suas energias, talentos, criatividade, deve estar a serviço da glória para a edificação do Reino. Portanto, a maior glória é um fim a perseguir, uma meta que ainda não foi realizada plenamente; ela é um apelo constante e princípio de discernimento para eleger o melhor e melhor contribuir na obra da Redenção.

Estar a serviço da glória de Deus significa, ao mesmo tempo, estar a serviço dos homens e mulheres. Para Inácio, a maior glória de Deus é, com efeito, o critério proposto para verificar e julgar a qualidade de nosso serviço. Para isso, quem vive a inacianidade é alguém excelente em algum campo. Não é que se queira classificar as pessoas, mas, deve haver uma excelência na pessoa – com o critério mais adequado para cada um. Excelência que não se mede nem segue parâmetros humanos, senão que se adquire ao sentir-se atraído por um Deus sempre maior.

Obviamente, a excelência fundamental é o “excedente de humanidade”: o que supera a norma, o comum, o que vai mais além do lícito, do razoável, e que se mostra numa atitude para com os outros e que se aproxima da incondicionalidade na acolhida.

Isto quer dizer que os/as leigos/as inacianos/as, saídos da contemplação do Reino, manifestarão uma espiritualidade de tipo ético e não tanto cultual. Interessa-lhes encarregar-se daquilo que é de Deus, à maneira de Mt. 25, no juízo das Nações. As obras de justiça solidária são a avaliação fundamental da ação humana. Isto faz com que o nome de Deus seja reivindicado, fique bem inscrito na história. E essa é a ação que atrai e seduz primordialmente. Isto envolve a destruição das falsas imagens de Deus e a oferta vivencial – a todos e da melhor maneira – do Deus que Jesus nos manifesta.

“O que é de Deus” para o/a inaciano/a, está perpassado pela contemplação para alcançar Amor, onde tudo fala desse Deus que se entrega em todas as coisas e ao qual não resta outra coisa senão devolver-lhe tudo, comprometendo-se com Ele, da mesma maneira que faz “o amado com o amante” (EE 231).

A pessoa inaciana é chamada a ser vanguarda na igreja e no mundo.

Por isso, o/a leigo/a inaciano/a tem que estar – física ou moralmente, com algum vínculo orgânico – numa obra de ponta, que de alguma maneira influa para fazer as coisas de outro modo, para servir melhor a mais pessoas, estruturalmente. A pessoa inaciana não pode ser do comum, ainda que esteja no comum, ou seja, tem que distinguir-se porque realmente vive a busca da excelência, do magis, da maior glória de Deus, do bem mais universal. Ela é chamada a ser vanguarda na igreja e no mundo.

Texto Bíblico: Mt 25, 31-46 / Mt l4, 13-21 / Lc 10, 29-37 / Lc 16, 19-31

 

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