A arte de enfrentar tempestades

em 19 de março de 2020 por MAGIS Brasil

“Quem tem motivos para viver não está preocupado em como viver” (Kierkegaard)

Um dia, um velho fazendeiro veio a Deus e disse-lhe: – Olha, o Senhor pode ter criado o mundo, mas preciso lhe dizer uma coisa. O Senhor não é fazendeiro. Não sabe nem o bê-á-bá da agricultura. O Senhor tem muito o que aprender. Ao que Deus respondeu: – O que você sugere? – Dê-me um ano e permita que as coisas sejam de acordo com a minha vontade. E veja o que acontecerá: não haverá mais pobreza! Deus concordou e um ano foi dado ao fazendeiro. Naturalmente, ele pedia e pensava somente no melhor. Nada de trovões, de ventos fortes, nenhum perigo para a safra. Tudo confortável, aconchegante. O fazendeiro estava muito feliz. O trigo crescia tanto! Quando queria sol, havia sol. Quando queria chuva, havia chuva, o tanto que quisesse. Nesse ano, tudo estava certo. Matematicamente preciso. O trigo estava crescendo muito. O fazendeiro procurava Deus e dizia: – Olhe! Desta vez a safra será tão grande que, por 10 anos, mesmo que as pessoas não trabalhem, haverá comida suficiente! Mas quando fizeram a colheita, não havia grãos. O fazendeiro ficou surpreso e perguntou a Deus: – O que aconteceu? O que saiu errado? E Deus respondeu-lhe: – Por não existir desafio, conflito, fricção, já que você evitou tudo de ruim, o trigo permaneceu impotente. Uma pequena fricção é uma necessidade. As tempestades, os trovões e os raios são necessários. Eles agitam a alma dentro do trigo.(Osho)

Há momentos em que daríamos tudo por uma chance de pedir a Deus para não corrermos riscos. Mas o risco é necessário. É importante poder enfrentar as dificuldades, o desconhecido e o incerto. Percebemos que algumas pessoas fazem opção pelo porto seguro das certezas, mas outros acolhem a alma agitada e constroem o novo.

Mas como enfrentar essas turbulências?

O autoconhecimento, a vontade de crescer, evoluir e progredir são decisivos. A sensibilidade, a criatividade, o espírito de iniciativa são nossos maiores aliados. É preciso também termos paciência, pois uma boa colheita necessita de tempo e espera.

Necessita também de tempestades, trovões e raios. Afinal, “eles agitam a alma dentro do trigo”. Para desenvolver ao máximo nossas potencialidades, temos de enfrentar dilemas, encruzilhadas, perplexidades e responsabilidades. Isto nos faz mergulhar na vida, desenvolver nossas forças, encontrar a nós mesmos.

Desejo e Medo: existe, na natureza humana, a tendência natural de ultrapassar o imediato, de caminhar para a outra margem, para arriscar novos horizontes, necessidade de afrontar o perigo, de tentar, de se aventurar. Mas existe também a tendência oposta de se poupar e de se acautelar, a necessidade inata de evitar o perigo, de se afastar dos obstáculos, de fugir das tempestades. O ser humano que confia é também o ser humano que teme, o ato de coragem contém, também, o medo. Esperança e dúvida, temor e coragem, criatividade e rotina, andam juntas. O ser humano torna-se corajoso quando toma a decisão de arriscar.

Deus nos ensina também na desolação

A experiência obscura, as tribulações, as tempestades, são inerentes à fé cristã, estão presentes em todas as pessoas. Mas isso deve nos permitir renovar constantemente uma confiança e uma união com o Senhor na realidade mais cotidiana. Na espiritualidade inaciana formar-se é provar-se. Só aquele que é posto à prova em sua fé e em suas convicções, se forma, cresce e amadurece.

Texto Bíblico  Mt 14,22-33

 

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