por Clara Mabeli*

Agroecologia. Para quem lê assim, à primeira vista, essa palavra pode até gerar certa estranheza. Agroecologia? Que será isso? Antes de qualquer coisa, devemos ter muita clareza que essa pergunta não possui uma única resposta. A agroecologia é ampla demais e, desse jeito, há que se ter noção de que defini-la em apenas uma breve conceituação teórica é limitar tudo aquilo que ela pode significar. Mas para conhecê-la, entendê-la e, assim, poder defendê-la é preciso partir de algum lugar.

Podendo ser entendida como ciência, prática agrícola ou mesmo como um movimento social e político, a agroecologia integra conhecimentos científicos multidisciplinares e saberes populares e tradicionais adquiridos, mantidos e atualizados continuamente por agricultores e agricultoras familiares, comunidades indígenas, quilombolas e camponesas, visando gerar estilos de agricultura mais sustentáveis, que possibilitem alternativas reais de enfrentamento à “única e complexa crise socioambiental” (LS 139) que temos vivido.

Assim, em uma realidade onde impera um modelo de produção de alimentos em que grande parte da comida que chega à mesa (quando chega) é produzida a partir do uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos e organismos geneticamente modificados, práticas que diariamente ceifam vidas no campo e nas cidades, defender, promover e fazer agroecologia é lutar e resistir o tempo todo, sem nunca deixar de acreditar que é possível, sim, produzir alimento saudável através de uma relação harmônica com o meio ambiente, sem desmatar, sem queimar, sem usar veneno, promovendo diversidade de cultivos e não a monocultura que tanto enfraquece nossas terras. A agroecologia respeita os limites da natureza e promove com dignidade a vida daqueles e daquelas que nela trabalham e que dela dependem, ou seja, a vida de cada um e cada uma de nós.

Engana-se, portanto, quem pensa que a agroecologia é uma realidade restrita ao campo e que pouco tem a ver com quem vive nas grandes cidades. Além dessa dependência clara e prática ligada à produção dos alimentos (“se o campo não planta, a cidade não janta”), é sempre válido e necessário resgatar a noção de que “a interdependência obriga-nos a pensar num único mundo, num projeto comum” (LS 164). Somos seres completamente interdependentes. De outros da mesma espécie, de espécies diferentes, do meio que nos abriga. Assim, qualquer promoção de diversidade ecológica, de vida e de saúde gerada no campo, afetará positivamente a vida daqueles que estão na cidade, da mesma maneira que toda a prática que promove o adoecimento de nossas terras, águas e ar, promoverá necessariamente o adoecimento de todos aqueles que deles dependem, direta ou indiretamente.

Como cristãos e cristãs, sabemos que é nosso dever assumir com vontade e coragem a defesa da nossa Casa Comum, reconhecendo que “estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a […] luz infinita”. Nesse sentido, que possamos enxergar, portanto, que ao defender a agroecologia e quem a promove, certamente estamos dando passos importantes nesse caminho, que se realiza aqui e agora. Sigamos em frente.

Fontes:

Caderno de Educação em Agroecologia. De onde vem nossa comida? Expressão Popular, 2015.

SANTOS, João Dagoberto dos. A Agroecologia em nossas vidas –  reflexões e algumas rotas, em busca de um equilíbrio em tempos de crise. In: RIBEIRO, Dionara Soares et al. Agroecologia na educação básica: questões propositivas de conteúdo e metodologia. 1ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2017. p. 51-66

Laudato Si, Papa Francisco.

Para saber mais:

A convenção dos Ventos: Agroecologia em contos, de Ana Maria Primavesi

Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)


*Clara Mabeli é graduada em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), colaboradora do Centro MAGIS Anchietanum e integrante do Grupo de Trabalho do Eixo Socioambiental do Programa MAGIS Brasil.

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