No dia de hoje, 27 de agosto, fazemos memória de um jesuíta brasileiro que é para nós exemplo do que significa ser contemplativo na ação. Nesta data, há 15 anos, Dom Luciano Mendes de Almeida entregou ao Senhor o dom de sua vida dedicada inteiramente ao bem das pessoas. Vendo Deus nas crianças, nos jovens, nos empobrecidos, nos encarcerados, nos marginalizados e todos eles em Deus, foi transformando muitas realidades na Igreja e em nosso país.

Era primavera em terras cariocas quando o casal Emília de Mello Vieira Mendes e Cândido Mendes de Almeida viveram a alegria da chegada de mais uma vida que viria perfumar e alegrar o seu jardim: em 05 de outubro de 1930, nascia Luciano Pedro Mendes de Almeida.

Também no Rio de Janeiro, o menino vive o início de sua trajetória escolar. É no Colégio Santo Inácio, onde estudava, que, além de aprender as diversas disciplinas, aprende também a ir ouvindo os desejos de seu coração. Desde jovem, começa a perceber o chamado para seguir a Cristo e enxerga na vida religiosa da Companhia de Jesus esta possibilidade, certamente inspirado pelo contato com os jesuítas que aí trabalhavam e frequentavam.

Após um processo de discernimento vocacional, em 2 de março de 1947, ainda com 16 anos, Luciano ingressa no noviciado da Companhia de Jesus em Nova Friburgo – RJ. Dentre tantas experiências marcantes, é neste período de sua trajetória que vive os Exercícios Espirituais de 30 dias, que vão dar a base afetiva e intelectual para todo seu serviço junto aos preferidos de Deus.

Finaliza seus estudos na Casa de Formação dos Jesuítas em Nova Friburgo, se gradua em filosofia e, dado seu potencial, é enviado a Roma, para fazer teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (1955-1959). Aí cursou duas escolas: a eclesial e aquela perto dos marginalizados. Com os jovens presidiários do Instituto Gabelli, aos quais foi prestar assistência, aprendeu efetivamente o significado de amar os pequeninos do Reino e a motivação para todo o seu ministério.

Sua ordenação presbiteral aconteceu em 5 de julho de 1958, também em Roma, onde seguiu aprofundando-se nos estudos – através do doutorado em filosofia – até 1965. Regressa, então, ao Brasil no período em que aqui se vive a dura realidade da Ditadura Militar, que devemos sempre nos recordar, para que nunca mais se repita. Foi professor em diferentes universidades e considerado subversivo por ceder bolsas de estudos para quem não tinha condições e por trabalhar na formação humanitária dos alunos, além de ser próximo aos estudantes na luta pela promoção da justiça social.

A defesa da dignidade humana foi companheira fiel no itinerário de sua vida e se intensificou ainda mais quando assumiu sua missão como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, em 2 de maio de 1976, atuando na região Belém, zona leste da capital. Aí incentivou as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e, com elas, centros de acolhimento às crianças em situação de vulnerabilidade; promoveu e organizou as Pastorais da Criança, do Mundo do Trabalho, da Moradia, dos Direitos Humanos, dos Cortiços, dos Sem-Teto, do Menor, o Movimento de Defesa do Favelado, o Arsenal da Esperança, grande obra junto às pessoas em situação de rua, que até hoje é um lugar onde podem encontrar abrigo, assistência e afeto.

Após 12 anos de atuação na grande e desafiadora São Paulo, é destinado para a Arquidiocese de Mariana, em Minas Gerais. Aí também serviu o povo de Deus e transformou muitas vidas. Articulou as paróquias em redes de comunidades, criou a Comunidade Educativa Popular Agrícola, a Casa da Figueira (para atender pessoas com deficiência), o Núcleo de Apoio ao Toxicômano, o Centro de Valorização da Vida (CVV), a Faculdade Arquidiocesana. Articulou a recuperação do importantíssimo patrimônio histórico e religioso de Mariana. Incentivou pastorais diversas: do Dízimo, da Juventude, da Criança, Vocacional, Familiar. Foi também um grande apoiador de movimentos sociais como o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).

Além de toda a intensidade de suas atuações locais, Dom Luciano também deixou muitas contribuições para a Igreja universal, principalmente pelo seu trabalho como Secretário Geral e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelas diversas participações e organizações de 6 sínodos dos Bispos em Roma.

Concretizadas diante de tanta entrega, são marcas de sua vida doada: o profetismo, a opção preferencial pelos pobres e mais necessitados, a santidade na estrada, a atenção a todos em todos os lugares, a grande capacidade de ouvir, a espiritualidade cristocêntrica e gentilmente mariana, humilde e corajosa.

Em 2006, por decorrência de um câncer de fígado, Dom Luciano passou a contemplar no céu a face do Deus que tantas vezes contemplou na terra através dos rostos de cada um aos que serviu. Diante de tanto bem recebido através de sua vida e testemunho, não nos faltam razões para acreditar que Dom Luciano segue intercedendo junto de Deus pelo nosso país, pela Igreja, pelo mundo. Nos unamos em oração pelo processo de sua beatificação que está em curso e sejamos gratos à sua vida doada, pedindo ao Senhor que seu testemunho da Pessoa de Jesus incentive a cada um de nós a vivermos o serviço como dom, vendo Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus.

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