”Jesuítas”, por Dom Sergio Eduardo Castriani

em 23 de agosto de 2017 por MAGIS Brasil
Jesuítas reunidos na ordenação presbiteral de Bruno Torres

No segundo sábado de agosto, véspera do dia dos pais, presidi a uma ordenação sacerdotal. O rito aconteceu numa comunidade da periferia de Manaus, bairro Alfredo Nascimento III, cuja padroeira é Santa Joana D´Arc. O local foi escolhido pelo diácono que seria ordenado presbítero. Escolheu esta comunidade porque durante o seu noviciado na Companhia de Jesus ali fizera sua experiência pastoral. O agora Padre Bruno é um jesuíta. Como todos os jesuítas teve uma longa formação que o conduziu a diversos lugares no Brasil e até a China onde fez dois anos de missão. Uma missão de presença no meio universitário, para favorecer o conhecimento entre os povos e o encontro de culturas. Finalmente, chegou à Roma para os estudos teológicos e para lá vai voltar para se doutorar em Direito Canônico.

Nascido no Pará, criado em Manaus, é um filho da nossa Igreja. Na sua família e nas nossas comunidades foi iniciado à vida cristã. Aqui conheceu os seus futuros confrades e aprofundou a sua vocação. Só Deus e ele sabem os caminhos de discernimento que percorreu até chegar ao sim definitivo. Durante a celebração a emoção tomou conta de todos. Cada um tinha seus motivos, também o presidente da celebração. No momento da imposição das mãos, quando todos os concelebrantes impõem as mãos sobre o ordinando, passaram diante de mim como um relâmpago os jesuítas que fizeram parte da minha história e que ainda hoje são referência para a minha vida pessoal e ministério sacerdotal e episcopal. Na minha juventude tive o privilégio de tê-los como mestres.

Dom Sergio Eduardo Castriani

Todos me marcaram mas sobretudo dois, Pe. Mendes que depois a Igreja do Brasil ficou conhecendo como Dom Luciano e Padre Mc´Dowel. O primeiro, já falecido, com certeza é nosso intercessor junto ao Pai, o segundo ainda dá aulas. Deles aprendi que opção pelos pobres e por uma vida austera, caridade pastoral, alegria e jovialidade, comunhão fraterna, combinam e dependem de seriedade intelectual, vida espiritual intensa, obediência aos superiores e castidade assumida de forma positiva. Quando penso em jesuítas penso em homens assim. Em dom Luciano a santidade era uma coisa natural. Viveu para servir. Homem íntegro e coerente tinha sempre uma atenção especial para os pobres. Com uma capacidade intelectual fora do comum valorizava tudo que era dito pelos seus interlocutores.

Mas jesuítas também o foram José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. E como não lembrar de Inácio de Loyola e Francisco Xavier. Jesuítas são personagens de filmes e de romances, e suas vidas alimentam a imaginação de adeptos de teorias conspiratórias que os veem por trás de eventos históricos. E a nossa geração está vendo um papa jesuíta. Ele pediu aos seus confrades que sejam no mundo homens de misericórdia, paz e alegria. Na minha homilia disse que o presbítero é o homem do perdão e da reconciliação com Deus, promove a paz formando comunidades de vida e transborda de alegria trazendo esperança ao mundo. O Bruno não escolheu um caminho fácil, mas o seu olhar sereno e a emoção no momento em que se tornava um sacerdote dão a dimensão do seu desejo de viver com Jesus para a maior glória de Deus.


Texto de Dom Sergio Eduardo Castriani, Arcebispo Metropolitano de Manaus, originalmente publicado no jornal Amazonas em Tempo