Preso e solto em Salamanca

em 2 de fevereiro de 2022 por MAGIS Brasil

Escrito pelo Esc. Lucas Pedro dos Santos

Na autobiografia de Santo Inácio de Loyola, no trecho situado logo após os estudos que Inácio realizou em Barcelona e Alcalá, destaca-se o tempo em que ele foi preso pela inquisição. Sua prisão teve como objetivo analisar as inspirações de seu ministério em relação aos Exercícios Espirituais e demais pregações, para ver se o que ele ensinava não entrava em desacordo com a doutrina da Igreja. Sem encontrar incoerências em suas pregações, os inquisidores lhe recomendam a continuar os estudos. Para isso, o peregrino segue o seu caminho em direção a Paris.

Chegando em Salamanca, Inácio tem uma profunda experiência de oração, que o faz ver a si mesmo e outros quatro amigos que, mais tarde, afetivamente, foram sendo reconhecidos e chamados companheiros, inspirados pela experiência singular na caminhada de Iñigo de Loyola em sua oração de se perceber devotamente como “Companhia”.

Mas, de fato, o que significa ser Companhia? Vem a ser aquele que parte o pão comum com o outro, aquele que divide o mesmo caminho, missão com o outro. Daí o sentido forte para a Companhia de Jesus de estar alicerçada sobre uma forte experiência de oração individual que visa perceber por onde Deus move a sua criatura na busca pela vontade do Criador, ao mesmo tempo, assume uma característica comum partilhada e assumida por outros. E daí vivida em comunidade.

Nessa passagem da autobiografia é visto como as pessoas são movidas pela curiosidade e o interesse para saber como esses “Companheiros vivem”, como eles são movidos e a partir do que são inspirados. Os Frades de São Domingos, encantados com esse modo de proceder da nascente Companhia de Jesus, lhes pedem para que os ensine a ensinar da mesma maneira, seguindo os mesmos passos que aparecem nos Exercícios Espirituais.

Inácio, com sua humilde partilha com aquela comunidade, admitia que possuía poucas letras e pouco fundamento sobre as coisas sagradas. Desse modo, ele deixa transparecer a simplicidade do seu relacionamento com o Senhor, o que ao mesmo tempo demonstra ser um desvelamento do sublime sentimento gracioso e belo de um ser humano, que deixa Deus ser Deus e a criatura ser criatura, bem-amada e querida. Reconhece que todo o amor que o move desce do alto e o faz escolher.

Seguindo assim a inspiração inaciana do se colocar diante do Senhor em Oração para discernir a vontade de Deus, seguindo de uma partilha do vivido em comunidade, fazendo que o sentido de Ser Companhia encontre na comunidade o sentimento partilhado de uma experiência individual que se complementa no plural. Portanto, comer juntos do mesmo pão é reconhecer que uma missão comum nasce de experiências individuais que são postas em comunidade. Pelo discernimento comunitário a missão é levada à sua realização por companheiros que possuem um mesmo modo de proceder.

Hoje essa inspiração se eterniza nas palavras do Papa Paulo VI, em dezembro de 1974: “Onde quer que, na Igreja, mesmo nos campos mais difíceis e de primeira linha, nas encruzilhadas das ideologias e das trincheiras sociais, houve confrontações entre as exigências urgentes do homem e a mensagem permanente do Evangelho, ali estiveram os Jesuítas”. Que este exemplo de vida e oração seja fonte de inspiração para prosseguir o caminho, sempre em busca daquilo que mais nos conduz para a maior glória de Deus e bem das almas. Que o Senhor nos dê a graça de sempre buscar aquilo que mais nos conduz para o fim ao qual fomos criados.

Textos bíblicos: Mt 14, 13-21 e Jo 13, 1-15

Pista de reflexão: onde contemplo no caminho experiências de ser companhia de si e do outro, comungando do mesmo pão como experiência de comunhão e unidade?

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