“Quero contribuir para sentir na Igreja aquela mãe-irmã engajada, uma Igreja que se apresenta muito ligada à atualidade dos problemas e desafios, testemunha de uma fraternidade sem fronteiras, com uma atitude profética em meio aos novos rumos que a história vai tomando e alegremente comprometida com os anseios e possibilidades do mundo moderno” (F. Cláudio Van Balen)
De acordo com a experiência de Santo Inácio, quem faz adequadamente os Exercícios Espirituais fica pro-fundamente “eclesializado”. O principal, para Inácio, é que o exercitante não só se sinta Igreja individualmente, mas perceba que sua vida e missão formam parte da Igreja. A pessoa movida pelo magis não pode permanecer indiferente nem inerte diante dos problemas que afetam a sorte do povo de Deus. A liberdade interior e o amor à Igreja constituem a atitude típica da pessoa inaciana.
A Igreja, nos Exercícios, é desenvolvida a partir da experiência do mistério de Cristo. É Ele, o Senhor, o “internamente conhecido, amado e seguido”, com seu chamado planta a Igreja em cada coração filialmente configurado por e com seu Espírito. O/a exercitante descobre n’Ele o centro de sua vida e Ele vai levando-o à Igreja, como os seus primeiros discípulos. Essa identificação progressiva com Ele desemboca na comunidade eclesial. Por isso, a Igreja é o lugar dos identificados com Cristo. Ser de Cristo, trabalhar para Cristo, é não só ser da Igreja, senão ser Igreja, sentir-se Igreja.
No fim dos Exercícios, Santo Inácio propõe as “Regras para sentir com a Igreja”, para sustentar e desenvolver, no coração do exercitante, a comunhão eclesial. “Todo o movimento dos Exercícios deve levar a um crescimento pessoal e a uma união de vida com a Igreja. Elas (as Regras) poderão ajudar-nos a aprender com a Igreja, na Igreja e pela Igreja, a maneira de viver, como adultos, nossa fé, nas condições, culturas e linguagens próprias do final deste século” (P. Kolvenbach).
A atitude eclesial deve ser encontrada através do discernimento, já que se trata, em última instância, de captar e obedecer ao Espírito Santo. Este discernimento se refere ao marco fundamental: meu ser Igreja.
Que Igreja somos, que Igreja queremos ser?
– A Igreja do futuro anuncia-se mais plural que uniformizada. A pluralidade vem da diversidade de experiências; brota de um Espírito maior que a instituição. A pluralidade implica enorme dimensão de misericórdia, de tolerância. A pluralidade vê-se desafiada em construir, na liberdade e consciência, a unidade na diversidade. Caberá ao Espírito Santo, na Igreja do futuro, co-ser com a linha do amor misericordioso a unidade plural das comunidades, das experiências pessoais.
– A Igreja do futuro será mais mistagógica (marcada pelo Mistério) que catequética, mais simbólica e estética que intelectual e doutrinal. Aparecerá cada vez mais importante para as pessoas o Mistério de Deus, da Trindade. No centro estará a preocupação de que as pessoas se encontrem com e no Mistério de Deus. Para tal, os símbolos, os sinais, as liturgias, a arte, a música, a beleza, o canto, os ritmos, os ambientes, que favoreçam tal contato com o Mistério, exigirão mais atenção, cuidado, esmero.
– A Igreja do futuro deverá viver sempre mais o compromisso com o crescente mundo dos excluídos. Caminha-se, pois, para uma Igreja mais solidária que corporativista. Mais preocupada com o bem da humanidade que com o seu próprio. Mais voltada para o sofrimento dos seres humanos que preocupada em defender seus ritos próprios. Uma Igreja voltada para o Mistério, sem compromisso, perder-se-ia na alienação. Uma Igreja voltada para o compromisso, sem o cultivo do Mistério, não responderia à sede de sagrado do ser humano.
– A Igreja do futuro deverá ser uma Igreja servidora, em estado de parceria, sempre disposta a ampliar e aprofundar suas verdades e valores, assumindo sua tarefa básica de reler no processo da história e no mistério de Deus o que melhor pode servir à vida e promover a convivência. Uma Igreja que, ao encarnar a mensagem do Evangelho, irá se mostrar capaz de um diálogo acolhedor; ao ser mais receptiva, irá se deixar tocar pela verdade dos outros e humilde, se reconhecerá aprendiz de uma permanente revelação (cf. João Batista Libânio – Como será a Igreja do futuro?)
Texto Bíblico: Lc 24, 36-43 / Jo 21, 1-14 / Mc 16, 9-14 / Col 3, 1-17 / Ef 4, 1-16 / At 2, 41-47
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