“Não somos meramente companheiros de trabalho;
somos amigos no Senhor”.

Desde os primórdios de sua conversão, um desejo habita o coração de Inácio: compartilhar com os outros o que ele experimentou. Ele convence, comove e converte pela firmeza e profundidade de suas convicções, pela autenticidade de suas palavras e de sua conduta, pela irradiação de sua vida espiritual. Ele “seduz”, ganha a simpatia, a amizade, a admiração das pessoas pela comunicação apaixonada e serena de sua experiência de Deus. Há um segredo em sua capacidade de contagiar as pessoas: a identificação com Jesus Cristo.

Em sua viagem à Terra Santa, Inácio ficou muito marcado com a imagem do Cristo companheiro, que o chama a trabalhar com Ele. Em cada canto daquela terra ela enxergava Jesus ocupado em estabelecer o Reino do Pai. E não estava só, mas com o grupo dos apóstolos, companheiros de Jesus e companheiros entre si. Ordinariamente, a palavra “companhia” foi identificada com algo guerreiro ou de armas (é uma interpretação tardia em castelhano e não pretendida por Inácio); no entanto, etimologicamente, companheiro/companhia tem a ver com o fato de “compartilhar o mesmo pão”.

Companheir@ é quem come o pão com outro. Por isso, Inácio, leigo, busca amigos e compartilha com eles o dinheiro e a comida nas universidades que estudou, dando-lhes os Exercícios Espirituais e convidando-os à solidariedade com os mais necessitados. Daí também se entende porque Inácio sai sempre em busca de companheiros/as com os/as quais podia compartilhar todas as suas experiências. Neste sentido, é interessante considerar como a amizade – como expressão e extensão da relação com Jesus – não levou o leigo Inácio a tratar somente com os homens. Sua amizade com várias mulheres foi sempre muito forte, muito rica e duradoura. A personalidade de Inácio, sua sensibilidade e capacidade para o acompanhamento espiritual, foram influenciadas, seguramente, por sua amizade ampla e próxima com as mulheres.

Este contexto de “compartilhar o pão” aparece também no Exercício sobre o Reino: “portanto, quem quiser vir comigo há de contentar-se de comer como eu, bem como de beber e vestir, etc., do mesmo modo há de trabalhar comigo” (EE 93). A partir disso, começa a se modelar o/a inaciano/a como “companheiro/a” de Jesus. O chamado de Jesus feito aos apóstolos e o posterior envio deles para a missão, são duas páginas do Evangelho que marcaram profundamente Inácio e que se encontram refletidas nas meditações mais tipicamente inacianas: o chamado do Reino, as Duas bandeiras, os Três binários.

Santo Inácio tem consciência de que não é ele que chama os outros a se unirem à sua missão. É o Rei Eterno que chama todos pessoalmente e os torna companheiros d’Ele para o trabalho de construção do Reino do Pai. É o Senhor que conversa com seus colaboradores e amigos e os envia em missão.Para quem é inaciano/a, Jesus é central porque assim o experimentou nos Exercícios. Não só o conhece senão que chegou – por graça – a sentir como Jesus, para atuar como Ele, sendo impulsionado a encarnar-se com a sensibilidade d’Ele. Por isto, o centro da vida é o Senhor a quem se experimenta como amigo e companheiro, porque no colóquio da oração aprendeu a falar com o Senhor “como um amigo fala a outro amigo” (EE 54).

Toda a experiência da Segunda Semana dos Exercícios Espirituais está perpassada por este seguir a Jesus até às últimas consequências e de colocar-se em sua companhia; é o “comigo” que brota do Exercício do Reino. A experiência de ser pecador/a perdoado/a lhe dá um matiz específico a este traço: é pecador/a, e no entanto, é chamado/a a ser companheiro/a. O mais profundo disto é que, precisamente por ser pecador/a perdoado/a, é chamado a compartilhar o pão.

Esta é a nova compreensão do que é ser pessoa inaciana: pecador/a perdoado/a, chamado/a a ser companheiro/a de Jesus, a ser Magis.

Textos Bíblicos: Lc 24, 13-34 / At 2, 42-47 / Jo 21, 1-18 / Cl 3, 12-17 / 1Cor 11, 23-34

 Nos Exercícios Espirituais, a pessoa inaciana aprende a descobrir a Jesus em sua Palavra, na Eucaristia e também nos necessitados: “como padece Cristo na humanidade” (EE 195). Esta experiência faz com que o/a inaciano/a fomente a companhia da pessoa de Jesus, mas também gerando companhia com os outros. A espiritualidade laical inaciana possui, como algo essencial, o traço do companheirismo: do compartir o pão ao tornar-se alimento para os outros.

 

# Clique aqui e faça o download da versão impressa desta reflexão

Confira também a reflexão da semana passada

Compartilhar.
Deixe uma resposta