“Disse-lhes então Jesus: ‘Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas’.” Mt 26,31

A juventude é um tempo especial para escutar apelos e fazer escolhas. A todo instante, precisamos escolher: um caminho, uma profissão, uma pessoa, uma candidata, um curso, um passeio, um investimento financeiro, uma roupa, etc. Estamos condenados a escolher. Mesmo quan-do dizemos que não queremos uma coisa, é porque já fizemos opção por outra. Na vida, as escolhas são necessárias, pois nossa satisfação e felicidade também dependem das boas escolhas que realizamos.

Na juventude, de modo especial, a necessidade de se fazer uma opção de vida ou uma escolha profissional leva diversos jovens a se sentirem pressionados e com grande responsabilidade em suas mãos. Consequência: surgem as crises, aumentam as dúvidas e se experimenta a angústia. A dificuldade aumenta mais quando temos que escolher entre duas ou mais coisas boas. E ainda: toda escolha é também uma experiência de morte, pois sempre temos que deixar algo em troca daquilo que escolhemos.

Quando usamos o termo “vocação” é para considerar todo o movimento que fazemos como resposta a algum chamado que sentimos. Portanto, vocação não se restringe a aspectos religiosos. Todos são chamados a descobrir o seu lugar no mundo e na história. Cada ser humano é chamado a marcar a existência, de forma bonita e transformadora, engajando-se em uma causa que valha a pena, na qual nos sintamos colaborares, participantes, fatores de crescimento e geradores de vida de qualidade.

Ninguém nasce já predestinado a ser isso ou aquilo

Não precisamos dizer que Deus não escolhe esta ou aquela pessoa para uma determinada coisa. É na convivência humana, com suas belezas e contradições, que descobrimos formas apropriadas para vivermos e sermos felizes. Nossas escolhas não são responsabilidade de Deus. Nós as fazemos porque encontramos algum caminho que nos conduz à meta que sonhamos e a algum projeto no qual queremos colocar a mente, o coração e todo o nosso ser.

Quando assumimos um projeto, uma profissão ou um estilo de vida, é porque nos vemos implicados nele. E nele queremos gastar a vida, de forma alegre.

Para escutar um chamado, é imprescindível prestar atenção. Ou seja, se não estivermos atentos aos movimentos da vida dentro e fora de nós, dificilmente encontraremos razão para nos envolver ou investir a vida. Somente um coração atento e antenado com a história, tecida de luzes e trevas, de graça e pecado, de conquistas e perdas, de vida e de morte, é capaz de dar respostas adequadas e comprometidas.

Responder a um chamado (vocação) pede de nós algumas atitudes fundamentais: sintonia (prestar atenção), escuta (capacidade de captar a essência dos acontecimentos e das pessoas), responsabilidade (intuir sempre uma resposta e assumir algo concreto), liberdade (deixar-se guiar pelo coração de acordo com a inspiração do Espírito) e desejo de partilha (sentir-se útil, colaborador/a, companheiro/a, disponível, construtor de relações saudáveis).

E onde entra Deus nisso tudo?

Reconhecemos que um chamado é divino a partir da fé que nutrimos. Como já foi dito: “Deus se revela naquilo que é humano”. Ou seja, quando o que fazemos ou a vida que escolhemos nos enche de alegria (mesmo quando haja sofrimento e dores no caminho), quando nos sentimos construtores da paz e solidários com a causa humana, quando nossa vocação não exclui ninguém, quando contribuímos para a justiça, a ética e o cuidado com o planeta e a criação, com certeza nos sentimos envolvidos pela onda de Deus e sintonizados com seu coração. Então, podemos até dizer que nos sentimos chamados por Deus.

Se as causas do ser humano são as nossas, se a defesa da vida é nossa bandeira, se somos compassivos e misericordiosos conosco e com os demais e se somos abertos ao universo, estamos sintonizados com o plano de Deus. E essa é nossa grande vocação.

Texto Bíblico  Mt 26, 26-36

 

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