Em agosto, a Igreja nos convida a refletir e rezar sobre nosso sentido de vida, nossa realização plena a partir da concretização das diversas vocações. O Programa MAGIS Brasil convida todas as juventudes, em comunhão com a Campanha Ser Mais Amazônia, a conhecer e vislumbrar a vida de pessoas que se doam junto às comunidades tradicionais amazônicas.

Nesta segunda semana, celebrando a vocação das famílias, conversamos com a Vivia e o Nazareno, que são casados e ambos naturais do norte do país, vivendo hoje sua vocação familiar junto das realidades da Amazônia. Confiram abaixo o relato de ambos.

 

 

Vivia da Conceição Cardoso (39), natural de Ananindeua (PA)

 

 

 

 

 

José Augusto Cardoso e Cardoso / Nazareno (44), natural de Ananindeua (PA)

 

 

 

1 – Qual seu serviço hoje junto dos povos amazônicos? Como ele acontece?

Vivia: Hoje nós lutamos em defesa dos territórios e sua autonomia, porque quem sabe o que é melhor e o que precisamos para viver melhor somos nós povos tradicionais da Amazônia. Nós buscamos parcerias, ferramentas que nos ajudem a defender nosso território de empresas particulares e de empreendimentos governamentais. Com tantas ameaças em torno dessas áreas preservadas há centenas de anos, nos sentimos responsáveis pela vida dos nossos parentes.

Nazareno: Na defesa dos territórios, através do protocolo da consulta prévia livre e informada, ajudando outros territórios na construção e divulgação dos protocolos!

 

2 – Como você começou a perceber a importância da Amazônia e as possibilidades da sua atuação nela, principalmente diante sua vocação?

Vivia: Essa pergunta não tem muita lógica para mim, mas vou tentar responder. Nós que nascemos em território tradicional quilombola, indígena, ribeirinhos, agroextrativista, entre outros, a gente não começa a perceber sua importância, já nascemos sabendo da sua importância para os nossos ancestrais e para nós que estamos hoje, porque o que muitos não sabem é que as matas, os rios, as florestas, elas fazem parte de nós, temos uma relação de comunhão, nós cuidamos dela e ela nos alimenta, nos dá saúde, vida, ela cuida de nós. Minha vocação é ser defensora da vida e para nós, se não temos isso, ficamos sem as matas para colhermos nossas ervas medicinais, nossos frutos, sementes, e terra para plantar, criação para nossa alimentação.

Nazareno: Quando me deparei com o que já tinha vivido, criado, quando eu vi o que eu faço tava mudando, minhas opiniões!

3 – Qual maior desafio que você vê hoje para essa região?

Vivia: Respeitar as leis ambientais já existentes, já que o ministro do Meio Ambiente é a favor da destruição da floresta Amazônica. E um governo que diz em seu discurso que a Amazônia tem que produzir, gerar riquezas, com essas falas dão apoio a grilagem de terras, mineradoras ilegais, madeireiras que matam as lideranças, destroem as matas e matam a Amazônia. Em tempos de pandemia, ficou mais claro que Amazônia e os povos que vivem nela precisam de apoio e ajuda, já que não tem fiscalização da parte dos órgãos competentes.

Nazareno: Desmatamentos, queimadas, poluição dos rios por mineradoras ilegais, extinção dos animais na fauna e flora, falta de fiscalização, o grande desprezo do governo com os povos tradicionais que vivem da da natureza e cuidam da mesma!

 

4 – Qual maior alegria que você já viveu ou vive no cotidiano dessa região?

Vivia: A minha maior alegria foi em 2017, quando construímos o nosso PROTOCOLO DE CONSULTA PRÉVIA LIVRE E INFORMADA, baseado na lei da OIT 169, onde nós colocamos as nossa forma de organização interna, a nossa autonomia sobre o nosso território. O Artigo 6º da Organização Internacional do Trabalho diz que os povos têm que ser consultados toda vez que tiver um empreendimento de caráter administrativo ou legislativo, e o território quilombola de Abacatal foi um dos pioneiros na construção e divulgação desse protocolo, ajudamos muitos territórios tradicionais e originários com mais essa ferramenta de defesa, fomos em muitos municípios do Pará e outros estados fazendo essa fala para o cumprimento da lei e fortalecendo os outros territórios.

Nazareno: A maior alegria que eu tenho é morar e ajudar outras pessoas com plantas, ervas medicinais, além de poder levar meu conhecimento a outros territórios, por também cuidar da terra, cultivar!

5 – O que você diria para as pessoas que ainda não vivenciaram a Amazônia?

Vivia: Para as pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de vivências na Amazônia, eu diria que não importa onde você more, em qualquer Estado desse Brasil, você também é responsável pela Amazônia. Nós, povos tradicionais que preservamos e defendemos até mesmo com a nossa própria vida, precisamos de ajuda, apoio e conscientização da população de que, não importa onde você mora, você pode ajudar a preservar e proteger a Amazônia.

Nazareno:  Como conheço, primeiramente respeito por minha história e que peça licença antes de entrar no meu bem viver, porque tudo começa com base no respeito, que aqui vai muito além de uma grande floresta conhecida como “pulmão do mundo”. Onde os rios têm vidas, as árvores falam, a terra guarda as histórias de lutas, de resistência, de vida. Onde tudo se transforma, onde tudo se equilibra. Onde eu vivo, onde eu persisto, onde eu crio, onde eu planto, por isso peço respeito!

 

Confira as entrevistas relacionadas a:
– Vocação Sacerdotal
– Vocação Religiosas/os

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Durante todo mês teremos depoimentos como este em nossas redes, fique ligado!
E anote na agenda: 31 de agosto, às 19h, em nosso YouTube, teremos um painel ao vivo com as diversas vocações.

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